terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MINHA VIDA DE PROFESSOR - ANO 4



Se eu acreditasse em horóscopo, diria que o início de 2006 foi uma espécie de inferno astral.

Formado, mas sem conseguir aulas. Formado, mas recebendo o certificado de conclusão apenas em Fevereiro, me restou me inscrever com estudante. Com uma penca e mais um saco de escolas municipalizadas, minhas chances ruíram.

Fevereiro e Março foram tensos demais. Ainda em fevereiro, a SEDU convoca 80 professores de História, para demonstrar-me que desgraça pouca era bobagem. Se não fossem as minhas reservas, frutos de gordos abonos, não sei não.

11 de Abril, aniversário de meu irmão caçula, e finalmente consegui voltar à sala de aula. Como substituto, mas voltei. Aprendi que o aluno trata o substituto como um ser que impede a sua chance de ter uma aula vaga. Era simplesmente ignorado pelos discentes.

Quinze dias se completam, e eu de novo, no ócio eterno... Não é música do Leoni, era a minha vida real, que só se alteraria com mais duas semanas, até receber um novo telefonema da Superintendência para pegar umas aulas em Terra Vermelha, na Escola Paulo César Vinha.

Mal sabia onde ficava, mal sabia o que esperar. A professora tinha deixado a escola sem avisar nada, e eu não sabia se seria substituto ou contratado até o fim do ano. Mas, fui. E gostei.

Gostei de lecionar à noite, gostei de lecionar para a EJA. Mas não gostei de saber que a escola seria municipalizada, e que meu contrato poderia ser encerrado de uma hora para outra. Escapei por pouco: só os professores do Fundamental passaram pela degola. Mas ainda me restava o obstáculo da decisão da escola de renovar ou não, o vínculo que se encerraria no meio do ano. Mais uma vez escapei.

Ao longo do ano, foram mais três substituições no Matutino: sofríveis e sofridas, que fiz para manter minha palavra. E mantive, o que me rendeu bons frutos lá na frente.

No Caic, como a escola era chamada, fomos tratados como secundários, por estarmos “de favor” por conta da Prefeitura. A diretora nos negava até o acesso à copiadora!

A sala dos professores era um ambiente pesado, de mexericos. Lugar de lamúrias. Tive que aprender a me defender, por vezes, usando as mesmas armas de quem me atacava.

O ano terminava, e sabia que dificilmente voltaria na escola, onde fui muito bem tratado pelos alunos, especialmente uma turma, onde minhas aulas pareciam um bate-papo. Pessoal de mais idade, gente boa toda vida.

No fim do ano, sensação de ter atravessado a tormenta.

Não cheguei limpo, mas cheguei ileso.