sábado, 15 de janeiro de 2011

O FIM DO BRASIL - PARTE 2



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Era o momento da campanha, e o 7 de Setembro era emblemático: até então, a separação (litigiosa) era dada como certa, mas os desfiles e comemorações deram uma trégua no clima belicoso. Os ex-presidentes Collor, Lula e Dilma (os dois já septuagenários), Fernando Henrique e Sarney (já nonagenários) se reuniram na campanha unitarista. Até membros da Família Imperial levantaram do sarcófago político, e relembrando a façanha de seu antepassado D. Pedro I em manter o gigante unido.


Grupos que defendiam a separação parcial, com uma Confederação que reunisse os Estados independentes formavam em Brasília, um aglomerado batizado com o significativo nome de “Movimento de Separação Pacífica”. Já que a fragmentação parecia inevitável, que ela fosse feita sem rupturas.

E o Brasil foi às urnas no primeiro domingo de Outubro, não para eleger seu presidente, mas para decidir se continuaria unido. Ficou estabelecido que cada estado poderia decidir ou não pela independência, o que poderia gerar situações ridículas: imagine se, por exemplo, Santa Catarina, Espírito Santo, Paraíba, Roraima e Mato Grosso decidissem continuar a serem brasileiros. Isso poderia resultar em um Estado cujos territórios estariam separados por milhares quilômetros.

E a tese do divórcio saiu-se vitoriosa: em alguns lugares, com mais de 90%, caso do Rio Grande do Sul e Piauí, e outros, com votação apertada, como no Rio de Janeiro, com apenas 52%. Candangos e goianos optaram por permanecerem brasileiros.

E agora, restavam algumas perguntas:

Como se faria a transição? Quem seria o inventariante do desmonte do espólio estatal? Com quem ficariam as estatais? Como se dividiriam as Forças Armadas? Como ficaria resolvida a questão da arrecadação do Tesouro? O real seria mantido como moeda única dos países? Em caso de negativa para a última pergunta, como as novas nações se encarregariam de emitir suas próprias moedas? Quem seria considerado o sucessor do Brasil perante às Nações Unidas e a Comunidade Internacional?

Investidores externos se mostravam preocupados com o futuro econômico das futuras nações, mas era consenso que a dita estabilidade econômica seria garantida, bem como o cumprimento dos acordos internacionais.

A influência externa sobre o novo panorama político também era nebuloso: riquezas naturais, como a Amazônia e o Pantanal, eram alvo da cobiça estrangeira, especialmente a norte-americana. Argentina, Venezuela e México se assanhavam em assumir a liderança política latino-americana. A Casa Rosada já anunciava oficialmente a pretensão de assumir o sonho brasileiro de ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.

Com transição, ficou estabelecido que Eduardo Campos teria seu mandato estendido por mais dois anos, assim como o Congresso Nacional, Governadores e Assembleias Legislativas para que fossem acordados os termos da separação. Reuniões feitas nos bastidores garantiram um acordo que parecia razoável para as partes. Se o Brasil se fragmentasse, que não fosse em vinte e sete Unidades Federativas, como se temia: alguns estados se uniram, segundo critérios geográficos, históricos, políticos, e sobretudo, de acordo com a conveniência de grupos que se manteriam no poder.

Os acordos resultariam em propostas que seriam submetidas à aprovação popular, em um referendo que ocorreria no primeiro domingo de Junho de 2023. Os novos Estados seriam os seguintes:

Estados Unidos da Amazônia: englobaria Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. Evo Morales pretendeu reanexar o Acre, comprado pelo governo brasileiro ainda no Século XX, e Hugo Chavez insinuou incorporar o território de Roraima ao seu país. Os rondonienses cogitaram em se unir ao Mato Grosso, mas preferiram se unir ao país, cuja capital era Manaus, e já nascia como um dos maiores territórios do planeta, e com um conveniente acordo “de cooperação” com o governo de Washington, que tratou de espantar os interesses venezuelanos e bolivianos em abocanhar parte de seu território.

República do Grão-Pará e Amapá: com capital em Belém, incorporou além do Pará, o Amapá, que só aceitou a união mediante a inclusão do seu nome na nomenclatura oficial do país. Havia o interesse francês em transformar o Amapá em um Estado fantoche, que lhe desse acesso fácil ao Rio Amazonas e às suas riquezas naturais. Nesse ponto a mão firme de Washington se uniu à boca nervosa de Hugo Chavez, aquietando as ambições gaulesas na região.

República do Maranhão-Piauí: os maranhenses cogitaram se unir ao Pará, e os piauienses, ao Ceará, o que não aconteceu em nenhum dos dois casos. Tratou-se de um casamento por conveniência, que gerou um país rico em recursos naturais, mas com os mais baixos índices de desenvolvimento humano da antiga nação. A estabilidade política e a união era garantida por acordos entre os oligarcas dos “noivos”, o que garantiria o casamento conveniente do país, cuja capital seria São Luís.

República do Cariri: Ceará e Rio Grande do Norte se uniram em um Estado cuja localização era estratégica (Natal é a cidade sul-americana mais próxima da Europa), e um incrível potencial turístico. A nova nação, cuja capital seria Fortaleza, se aproveitaria disso para se enriquecer com a sua localização geográfica, usada para o sistema portuário e a negociação para a possível instalação de uma base militar americana na região.

Federação do Equador: o nome era uma homenagem à revolta de 1824, apenas retirando o termo Confederação e colocando Federação no lugar. A nova nação, cuja capital seria Recife, teria os antigos estados de Pernambuco, e Paraíba como integrantes. Curiosamente, Eduardo Campos, o último presidente brasileiro, seria eleito o primeiro presidente do novo país, que seria chamado mundo afora como “Equador Oriental”, em contraposição à República do Equador, chamada de “Equador Ocidental”.

República do São Francisco: reunindo Sergipe e Alagoas, o novo país seria um Estado Tampão, que impediria o acesso de equatorianos ocidentais e bahienses o acesso à Foz do Rio São Francisco, e amortizaria a disputa entre as potências regionais. Geopoliticamente, o território francisquense seria uma espécie de Uruguai nordestino. A nova capital seria Maceió, mas apenas provisoriamente até a sua transferência para uma cidade na fronteira entre Alagoas e Sergipe

República Bahiense: com capital em Salvador, o novo país seria batizado em homenagem aos participantes da Conjuração dos Alfaiates, em 1798. Os bahienses disputariam a hegemonia nordestina com equatorianos orientais, embora mantivessem com eles acordos de cooperação econômica e o compromisso de “amizade nordestina”.

República do Rio Doce: capixabas e mineiros se uniriam nesse país, cuja capital seria Belo Horizonte. Para o mineiros, a interessava o acesso ao mar, ao sistema portuário e ao petróleo do Espírito Santo, que por sua vez, estaria ligado à uma potência do antigo Brasil. Havia ainda o interesse fluminense no território capixaba, alegando também exercer “influência cultural” sobre seus habitantes. Mas, os critérios econômicos prevaleceram.

Estado do Rio de Janeiro: trata-se da única unidade da antiga federação que não se uniu à nenhum vizinho. Pequeno geograficamente, mas importante economicamente, o novo país nascia aproveitando o seu petróleo e o seu potencial turístico. Teria que montar um eficiente programa de preparação de suas forças militares, para combater o crime organizado, um problema ainda não resolvido, e quiçá, insolúvel.

República Unida do Brasil Centro-Sul: os separatistas de São Paulo diziam que eram a locomotiva que puxavam o resto do país. E essa locomotiva ainda carregou dois vagões consigo, Mato Grosso do Sul e Paraná. Os sul-matogrossenses, entre se unirem de novo ao Mato Grosso, do qual se separaram em 1979, e se ligarem ao novo e economicamente importante país, preferiram a segunda opção. Já o Paraná, quase se uniu aos seus vizinhos do Sul, mas optaram pela conveniência econômica e engrossou o território da nova nação, cuja cpital seria São Paulo.

Federação Farroupilha: Rio Grande do Sul e Santa Catarina formariam uma nova nação cujas unidades federativas seriam respectivamente batizadas de República Farroupilha e República Juliana, em homenagem ao movimento separatista do século XIX. Próxima comercialmente de uruguaios e argentinos, a região seria uma ponte entre o Mercosul (que continuaria existindo) e o restante do antigo Brasil.