quinta-feira, 28 de julho de 2011

BÔNUS MALDADE

A

lguns anos atrás, foi implantado em São Paulo, o chamado sistema de bônus para o Magistério. A coisa parece simples e justa: com base nos resultados de avaliações externas, nos índices de aprovação e evasão de alunos, e em alguns sistemas de ensino, a frequência do profissional também é avaliada.
Só parece simples, porque os critérios, a princípio simples, são para lá de discutíveis.

Primeiro, no que diz respeito à avaliação externa: nos cursinhos, é normal avaliar os professores de acordo com os índices de aprovação de seus alunos em vestibulares e concursos públicos, mas na rede pública, as coisas não funcionam bem assim. E se o aluno vai mal nas avaliações, ou se ele simplesmente não quer estudar, a culpa é somente do professor? Até que ponto o sistema de ensino, ou os gestores desse mesmo sistema não têm culpa? Se a escola não tem estrutura física, ou a segurança é quase inexistente, é justo punir o professor por isso?

Segundo, no que diz respeito aos índices de aprovação: reprovar ou não reprovar é uma discussão antiga, mas que ganhou um ingrediente novo com a política de bonificação. É muito mais fácil para o professor e/ou a escola inventar aprovações para garantir uma nota maior, e recursos maiores. Simples e imoral, mas recorrente.

E o terceiro, a frequência: o profissional tem parte da bonificação cortada caso falte ao trabalho. Justíssimo, se o critério para diferenciar faltas justificadas e não-justificadas não fosse injusto (paradoxo mode on). Simplesmente não existe falta justificada: não foi ao trabalho porque o médico atestou que estava sem condições resulta em desconto; não foi ao trabalho porque estava na sala de parto, dá desconto; não foi ao trabalho porque foi ao velório e sepultamento do pai dá desconto. A alegação que existe uma indústria de atestados médicos esbarra na ineficiência da fiscalização, que resulta na tacanha estratégia de considerar todos ausentes pré-culpados.

Feito isso, é só plantar notinhas na imprensa, dizendo que o professor pode ganhar até x vezes o seus salário, dando a entender que quem recebe a bonificação está sendo premiado pela competência, e quem não recebe é um incompetente e preguiçoso.

E a imprensa não dá direito de resposta.