sábado, 14 de janeiro de 2012

CALA A BOCA, GALVÃO (AGORA NO UFC)



Galvão Bueno é uma figura contraditória.

Por um lado, é capaz de narrar diversas modalidades com conhecimento de regras, de dinâmica de jogo, sabendo o vocabulário específico de praticantes de diversas delas. Também é capaz de segurar um transmissão sozinho, sem ter que recorrer à lugares comuns e sem cair no marasmo.

O problema é esse: o seu conceito de fugir do marasmo. O seu conceito de fugir do marasmo.

O locutor titular da Globo abusa do ufanismo, como ele mesmo afirma. "Sou um vendedor de emoções", afirmou certa vez. Emoções exageradas, não raras vezes.

Vamos ao caso:

A Globo, percebendo a popularidade do UFC, comprou os direitos de transmissão dos eventos promovidos pela organização chefiada por Dana White, que entrara na TV aberta brasileira via RedeTV. No UFC Rio ano passado, a claudicante emissora chegou a liderar a audiência, coisa que salvo engano só o Pânico na TV havia conseguido naqueles lados.

Ao estrear nas transmissões, Galvão já lançou mais um bordão: "Gladiadores do Terceiro Milênio".

Menos...

Basta recorrer à História, que os Gladiadores na Roma Antiga eram apenas massa de manobra para distrair a população. Até aí, nenhuma singularidade: a política do "pão e circo" é adotada até hoje mundo afora.

Mas, é bom lembrar que nas lutas nas arenas romanas, o objetivo era matar o oponente. Logo, não dá para comparar um evento sangrento com esporte.

Se bem que esse MMA não dá para ser chamado de esporte: eu me recuso a considerar como tal uma modalidade cujo objetivo é espancar o adversário. Esporte é algo que deve fazer bem à saúde, por princípio, e atletas devem gozar de boa saúde.

Está bem, você pode lembrar as inúmeras lesões em outros esportes, com mortes em campo (caso Serginho, em 2004), os atletas que pararam pelo caminho com o corpo pedindo arrego, ou os que continuam na base de um sacrifício incrível.

Mas, daí a comparar o MMA com outros esportes é covardia: no futebol, o objetivo é fazer a bola passar pela baliza adversária; no vôlei, é tocar o chão da quadra adversária, e mesmo o Judô, outro esporte de luta, o objetivo não é destroçar fisicamente o rival.

Entrevistado por Marília Gabriela, Vítor Blelfort chegou a dizer que o MMA é menos violento que o futebol, e citou o caso das torcidas organizadas. Primeiro, torcedor organizado em sua maioria é bandido ou associado à bandidos, e nem entra em campo; segundo, comparemos a quantidade de lesões de um lutador de MMA com a de um jogador de futebol. Depois, digamos qual modalidade é mais violenta.

Outra coisa: uma análise desse UFC, mesmo que superficial, já deixa claro que é um evento comandado pela trupe de Dana White: os oponentes são escolhidos pela organização sem que ela precise justificar os critérios; lutadores não se associam à "liga", apenas são contratados por ela para lutar onde e contra quem a organização determinar.

Não se pode negar, que já que é um evento, o UFC é primoroso nisso: ações de marketing de dar inveja à antiquada cartolagem e os moleques marrentos do futebol. Aqui no Brasil, no ramo das lutas, já deixou o boxe para trás há muito tempo. Anderson Silva, Vítor Belfort, José Aldo, Minotauro, Minotouro, e mais alguns já são figuras midiáticas, enquanto o boxe agoniza sem ídolos.

Lutadores podem ter preparação de esportista, mas chamá-los de esportistas é demais.

Arte marcial deve servir para defesa, não para agressão, por mais que regras limitem parcialmente os danos físicos. A imagem do rosto de um lutador, quase desfigurado pelos golpes, já diz tudo.

Por mais que navegue contra a corrente, continuo dizendo que MMA não é esporte.

Não assistirei o UFC Rio hoje, mas já posso mandar Galvão Bueno calar a boca por antecedência