quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PROCESSO INCOMUM


 

Não me surpreenderia se o Judiciário recebesse três processos relativos aos alagamentos que assolam Vila Velha, e todos eles tendo como reclamantes as “otoridades” que gerem o município Canela Verde.

O primeiro reclamante seria São Pedro. Há anos ouço dizer que os alagamentos são responsabilidade da quantidade de chuvas que de vez em quando assolam e alagam essa terra. “No período x, a precipitação pluviométrica foi y, enquanto o esperado para o período era z”. 

Esse discurso pronto sempre é repetido, como se fosse a saída (ou desculpa preferencial) para nossos governantes.

Pois é. Só que especialmente na última década a quantidade de chuvas “acima do esperado” se repete com frequência sem que nada seja feito. É como um desastre anunciado contra o qual pouco ou nada se faz, além de paliativos ou projetos de parcerias com os Governos Estadual ou Federal que nunca se efetivam.

O segundo reclamante é o mais novo: Poseidon, se você é adepto da Mitologia Grega, ou Netuno, caso prefira a Mitologia Greco-Romana. No caso, optemos por Poseidon, senhor dos mares, e obviamente, das marés. Nos períodos em que os Canela Verde estão submersos, a maré passou a ser responsabilizada, amparada por um estudo técnico que se debruçou sobre o tema.

Longe de mim contestar a opinião de especialistas, mas mantenho a decisão de contestar a opinião dos governantes. Altas na maré são sazonais e é claro, se combinados com grande quantidade de chuva, provoca os alagamentos. Mas, insisto na tese de defesa de São Pedro: já que isso é sabido, o que é ou foi feito de prático para pelo menos reduzir os transtornos?
O terceiro reclamante é o mais importante; o próprio Criador. A topografia com que Ele concebeu a nossa cidade também é apontada como culpada pelas catástrofes. Nesse caso, as desculpas de nossos gestores é ainda mais infundada, já que desde que os primeiros seres humanos chegaram por aqui, a topografia é conhecida.

Outras cidades ou regiões têm topografia semelhante à Vila Velha e nem por isso, os efeitos do alagamento são tão nocivos. E não venham com a comparação orçamentária: as obras de prevenção em Vitória datam de décadas atrás, quando a capacidade de investimento da Ilha do Mel não eram tão superiores às de nossa Veneza Capixaba.

Aliás, uma bobagem é comparar Veneza com Vila Velha. Veneza faz das águas um atrativo turístico, ao contrário de Vila Velha, que tem nas águas algo que atormenta os seus moradores. Moradores, que têm culpa também nos alagamentos, na medida em que entopem bueiros e todo tipo de escoamento de água que poderiam minimizar o desastre. Mas, está para nascer o político cabra-macho que tem coragem de enfiar o dedo na cara do eleitorado e responsabilizá-lo. Talvez porque sinceridade e política não combinam.

É loucura condenar exclusivamente o Prefeito Neucimar Fraga pelo caos trazido pelas chuvas. Mas inocentá-lo é impossível: suas promessas de campanha diziam ser possível dar um grande passo para evitar a submersão da cidade que pretendia administrar. Dizia ter respaldo do então Governador Paulo Hartung e de privar da intimidade do então Presidente Lula. Segundo o então candidato, Lula o chamava de “Cimar”. Intimidade que não se reverteu em ajuda.

No fim do ano, na inauguração (sem que a obra estivesse concluída) do viaduto no cruzamento da Rodovia Darly Santos com a Avenida Carlos Lindemberg, foi feito um festão de despedida para Hartung, com direito a um longo discurso de Neucimar, que em tom hagiográfico, falou mais que o próprio homenageado. No mesmo dia em que o prefeito festejava, a cidade estava alagada. No mesmo período, falando na Rádio CBN, Neucimar afirmou que precisava de R$ 500 milhões e 6 anos para solucionar os problemas dos alagamentos. Pois é, levou dois anos para descobrir que seu compromisso de campanha não se efetivaria.

Não por acaso, boa parte da população não aprova a administração. Segundo o Instituto Futura, dois terços da população desaprovam seu trabalho. Segundo um de seus defensores em redes sociais, a avaliação é duvidosa, pois estaria atrelada à baixa arrecadação e o baixo investimento publicitário da municipalidade. Segundo seu tacanho raciocínio, os prefeitos de Vila Velha e Cariacica teriam baixa aprovação, ao passo que os pesados investimentos em publicidade de Vitória e Cariacica trariam a “simpatia” dos institutos de pesquisa.

Sujeito tolo, para dizer o mínimo. Fosse assim, as popularidades de Sérgio Vidigal não estariam em queda livre, coisa que o próprio Futura atesta. Será que as prefeituras estariam secando a torneirinha das agências de propaganda?

Nem mesmo os recentes investimentos midiáticos parecem fazer efeito: nem mesmo com um show a cada asfaltamento inaugurado, a popularidade do Prefeito cresce.

E tem mais: fosse a popularidade de Neucimar mais alta que seu defensor afirma, por que será que seus dois principais adversários, Max Filho, Hércules Silveira e Cláudio Vereza conseguiram votação expressiva no município, apesar da regra proporcional ter impedido a votação do primeiro? E por que será que Ledir Porto, seu pupilo e que contou com seu empenho pessoal, naufragou nas urnas?
Nesse processo, sou testemunha de acusação, sem que haja interesse espúrio em prejudicar o réu em questão. Sou cidadão e tenho o direito constitucional de exercer na opinião, que por sinal, não é agressiva, baseada apenas em fatos, carregados de ironia, é verdade. E não confundam ironia com deboche.

Outra defensora do prefeito nas redes sociais, disse para eu me candidatar no próximo pleito. Lamento, minha cara, mas política é uma coisa para a qual o meu estômago não está preparado. Mas assumo o compromisso de me engajar em uma candidatura que tem mais a contribuir para o desenvolvimento de Vila velha do que o atual mandatário: O MOSQUITO. O mesmo Mosquito que foi impedido de assumir o Executivo Municipal após a as esmagadora votação de 1987.

Um administrador deve ser cobrado segundo os compromissos que assume, e levando em consideração o que foi feito até agora, o atual prefeito merece estar no banco dos réus, ao lado de seus antecessores.

E que São Pedro, Poseidon e O Criador fiquem tranqüilos: não é preciso nenhuma banca de advogados de primeira linha para ganhar a causa.