sábado, 16 de julho de 2011

PALAVRAS QUE MACHUCAM



Ontem, eu estava em uma celebração de aniverário de uma aparentada, com pessoas com que eu convivo, outras que eu conheço, e mais algumas que mal sei quem é. Normal até aí.

Sentados em uma mesa, conversávamos sobre filho, planejamento familiar, gravidez e suas consequências... enfim, amenidades normais e corriqueiras, até que uma mulher falava sobre a dádiva de dar a luz. Disse que seu sonho era engravidar de novo, o que está tudo bem.

Até que interrogada sobre a possibilidade de adotar, a pessoa se transtornou, como se tal ato fosse uma praga, como se o filho adotado não fosse filho completo, como se ser mãe adotiva não fosse mãe completa.

Não escondo de ninguém que fui adotado quando nasci. Sou um caso de "adoção à brasileira": fui adotado e registrado como filho biológico, e criado sem nenhuma diferenciação. Inclusive, minha mãe tem um filho biológico, que considero meu irmão sem nenhuma restrição, assim como minha mãe não diferencia nenhum de nós pelo tratamento.

Nunca fui diminuído, nem me senti menor por minha condição. Pelo contrário, por vezes levo na brincadeira, e acho curioso que meus amigos estranhem a minha falta de curiosidade em desvendar "minhas origens". Fui filho único de minha mãe até a adolescência, e talvez isso só tenha me despertado um pequeno interesse em saber quem são meus possíveis irmãos.

Conheço com uma pessoa que adotou uma criança e fala disso como se fosse uma dádiva que a vida lhe deu. Poucas pessoas eu vejo falar da adoção com tanto entusiasmo.

As palavras me machucaram no coração, me deu vontade de reagir, mas preferi ficar quieto. Primeiro, as palavras desncessárias não merecem reação, de tão estapafúrdias que são; segundo, porque as pessoas em torno e o ambiente aprazível não mereciam uma discussão em potencial que se poderia se desenvolver.

Só resta lamentar que ainda existam pessoas que pensam assim.