segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DESVIO DE FUNÇÃO



No futebol, como em poucas profissões, as funções se acumulam de uma forma quase que desastrosa. É impressionante como tem gente no meio que faz de tudo um pouco, e faz quase tudo mal.

Treinadores viram comentaristas, e se põem a criticar modelos táticos de seus ex-colegas. Quando retornam ao banco de reservas, fazem as mesmas besteiras de antes, nem parecendo o sábio que empunhava o microfone. Mário Sérgio é um caso desses: quando desceu da cabine para o campo, prometia ser o novo Rinus Michel.

Jogadores também vão para a bancada de comentários para provar que palavras e atitudes suas são incompatíveis. Neto foi exemplo de péssimo comportamento, mas ainda tem a pachorra de criticar indisciplinados. O falastrão já tomou um sabão em público do goleiro Marcos daqueles que mais pareciam uma humilhação pública.

Torcidas organizadas há muito tempo se tornaram (em considerável parte) um bando de arruaceiros que deveriam ajudar a inchar as estatísticas prisionais. Em troca de ingressos e passagens grátis, cargos na diretoria, ou outras regalias, se tornaram gangues armadas dispostas a perseguir adversários de quem lhes financia, como os mercenários comumente fazem.

Treinadores também são empresários. Mesmo que ajam na legalidade, existem casos que há um flerte com a imoralidade. Vanderlei (ou Wanderley) Luxemburgo já foi dono de instituto de ensino que empregava árbitros em atividade, já “administrou” o Mixto, o Joinville e agora, o Botafogo de Ribeirão Preto. E se esses times estiverem na mesma competição que o time que ele for treinador?

Isso sem contar que ele levou o Flamengo para fazer pré-temporada no CT de propriedade de Sérgio Malucelli, seu sócio em diversos negócios.

Jornalistas são um caso à parte, de fato. Mílton Neves é uma espécie de aspirante à celebridade no meio, daquelas que fazem de tudo para aparecer, mesmo que para isso faça propaganda de plano de saúde que dê calote nos usuários, ou de empresa envolvida em escandaloso processo de sonegação. Quando alguém lhe desagrada com a opinião, o caso vai parar na Justiça.

Isso sem contar no relacionamento entre profissionais que extrapola o limite do razoável: neto, amigo de Andrés Sanchez, recebe notícias em primeira mão (como a contratação de Ronaldo) em troca de elogios à diretoria corinthiana; a exposição que o antigo Grêmio Barueri tinha no Bola na Rede, então apresentado por Fernando Vanucci já seria esquisita, mas a esquisitice ganha mais contornos se soubermos que Vanucci que a esposa de Vanucci tinha relações profissionais com a prefeitura chefiada por Rubens Furlan, o amigão do CQC.

Ronaldo, há muito tempo, tem preferência em dar entrevistas a Mauro Naves, que não lhe constrange com perguntas “embaraçosas”.

Perguntas embaraçosas que Neymar também tinha certeza que não encontraria ao dar uma entrevista para Patrícia Poeta, que sabidamente só faz perguntas na medida do interesse do entrevistado, como já fizera com Felipe Melo no pós-Copa e com Ronaldo, após o escândalo dos travestis.

Enfim, ao tomar conhecimento do que acontece no futebol, é preciso entender o interesse de quem divulga a notícia. O interesse nem sempre pode ser o melhor.