domingo, 30 de janeiro de 2011

GAROTOS-PROPAGANDA



Garotos-propaganda



30 de janeiro de 2011


Da “FOLHA”


Por TOSTÃO


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Os times e jogadores no Brasil marcam e correm cada vez mais. E jogam cada vez menos


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NA TERÇA-FEIRA será apresentada a nova camisa da seleção, com uma faixa verde na altura do peito. Segundo a Nike, a faixa simboliza um escudo de proteção aos guerreiros da seleção. Aí é demais.

Guerreiro era também o símbolo da propaganda de uma cerveja, antes e durante a Copa do Mundo de 2010. Dunga era um dos garotos-propaganda. Apareciam torcedores com armaduras, como se
fossem para a guerra. Dunga, com a cara amarrada, falava em raça. A maioria achava que a seleção, por ser comandada por um guerreiro, ganharia a Copa. Futebol não é guerra.

Garra não faltou ao Corinthians no empate contra o Tolima. Faltou talento. Os times brasileiros correm, marcam e lutam cada vez mais. E jogam cada vez menos. Faltou ao Corinthians mais dribles, troca de passes e triangulações. É disso que reclamou Loco Abreu, da maneira de jogar do Botafogo. Ele não quer apenas a bola pelo alto.

Atuar com vontade, garra, é tão óbvio e essencial, no futebol e em qualquer atividade, que nem deveria ser discutido. Seria como viver sem alimento, sem desejo e sem carinho.

Sai o garoto-propaganda Dunga, e entra Mano Menezes. A cerveja é outra. Muitos criticaram os dois técnicos por fazerem propaganda de cerveja. Outros acham que a crítica é moralista. Penso que o técnico da seleção brasileira não deveria fazer propaganda de cerveja nem de qualquer outro produto.

Há muitos conflitos de interesses. A CBF, pressionada por todos os lados, faz de tudo para agradar aos parceiros. O treinador teria de ficar acima de tudo isso.

Da mesma forma, treinador, de seleção ou não, não sei se é o caso de Mano Menezes, não deveria ter empresário que fosse o de jogadores que estão sob o comando do mesmo treinador. Talvez a única solução, nesse jogo de interesses, seria o técnico não ter empresário.

Os jovens adoram se reunir com os amigos para tomar cerveja. Antes dos 18 anos, quando já era profissional do Cruzeiro, gostava quando tinha folga no fim de semana. Encontrava com a turma do bairro para tomar cerveja, jogar conversa fora e falar sobre coisas fora do futebol.

Hoje, a propaganda é maciça.

Aumentou bastante o uso de bebidas alcoólicas. O álcool em excesso é causa de gravíssimos problemas de saúde, muitos sem solução, mesmo se a pessoa parar de beber, além de contribuir para aumentar a violência, os acidentes de trânsito e outras tragédias.

O treinador da seleção deveria pensar nisso.