segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ENSINO, PESQUISAS E AFINS



Dia desses em um consultório médico, folheei uma Veja de algum tempo atrás, com o tema educação. Ricardo Ioschpe, o especialista da publicação sobre o tema discorria sobre a valorização salarial e a qualidade do Magistério.

Segundo ele, "pesquisas" indicam que NÃO HÁ RELAÇÃO DIRETA ENTRE VALORIZAÇÃO SALARIAL, QUANTIDADE DE  E QUALIDADE DE ENSINO, fato respaldado por "especialistas" consultados pela Veja.

Ioschpe não diz que instituição fez essa pesquisa, nem onde foi o campo de estudo, nem a metodologia, nem quais foram as demais conclusões tiradas do estudo. Apenas joga uma informação ao vento. Além do mais, "especialista" é um termo vago em educação. Se alguém cursou é Doutor em Legislação Educacional, isso não significa que seja especialista em Didática de Ensino, por exemplo. Faltou ao escriba descrever a "especialidade" dos consultados.

Está certo que um profissional bem-remunerado não é necessariamente um bom profissional, e isso nós vemos em várias atividades. E também está certo que um mau profissional não se tornará bom se tiver uma quantidade de alunos. Mas, o pobre escriba deveria saber (ou pelo menos, não omitir) que em qualquer profissão, a remuneração é um item de atração de profissionais.

Descrevo a rede estadual do Espírito Santo com exemplo: até 2007, os salários da rede eram inferiores às Prefeituras de Vitória, Cariacica, Vila Velha e Serra. Ate então, quanmdo surgia uma vaga na rede municipal,  era a regra que profissional fizesse a migração. Restava à rede estadual buscar alguém (normalmente com menor qualificação e experiência) para a vaga, o que poderia demandar tempo e quebra no ritmo de aprendizagem.

Com os aumentos desde 2008, o ritmo migratório se inverteu, e hoje, boa parte das Prefeituras sofrem com a ausência de professores.

Para quem afirma, como ele e seus "especialistas". que a quantidade de alunos não influencia o rendimento, sugiro encarar uma sala de aula com mais de 50 alunos, mesmo quando a LDB estipula o limite de 40. Como dar atendimento suficiente à um grupo tão grande, e provavelmente, tão heterogêneo? Com o parco tempo de planejamento, alguém consegue executar as tarefas necessárias ao ensino e ainda por cima, cumprir as exigências burocráticas inerentes ao serviço? Isso sem contar a massacrante carga horária de trabalho.

Nesse ponto, o pobre escriba dá um tiro no pé: afirma que o professor perde tempo demais com a parte burocrática, com a chamada e a escrituração de diários, sem contar a imensidão de questionários, projetos institucionais, e por aí vai.  Mas não diz que essa é uma exigência estabelecida pelos Sistemas de Ensino (ir)responsáveis pela Gestão.

Mais um bobagem descrita na matéria: A QUALIDADE RUIM DO MAGISTÉRIO ESTARIA LIGADA À QUALIDADE RUIM DAS LICENCIATURAS EM INSTITUIÇÕES FEDERAIS. Segundo o INEP (estou apontando a fonte), 80% dos professores graduados o fizeram em Instituições Particulares, em cursos se multiplicaram geometricamente a partir dos anos 90.

Qual seria o interesse da "impoluta" Veja em preservar tais instituições?

Sinceramente, a Veja já viveu dias melhores.

Jornalismo, embora eu não seja da área, não precisa ser imparcial, mas pelo menos precisa ser isento. Qualidade é uma coisa que vai da percepção de quem lê, ouve ou vê a notícia. E pela minha percepção, essa matéria deixa muito a desejar.

E que a publicação escolha um especialista sem aspas da próxima vez.