sábado, 10 de setembro de 2011

TODOS SOMOS FIEIS



Desde guri ouço a propagação das maravilhas da torcida do Corínthians: “não é o time que tem a torcida, é a torcida que tem o time”, torcedores fieis “que sempre empurram o time”, a mística das vitórias sofridas, dos jogadores guerreiros, da “camisa que jogava sozinha”, como disse Antoine Gibran, descrendo da possibilidade de rebaixamento em 2007.


A mídia, interessada em cativar os numerosos adeptos, acalentava o mito. Alguns até ousavam em dizer que os corinthianos eram mais numerosos que os flamenguistas. Uma curiosa teoria do “segundo time” era defendida por Roque Citadini: “a torcida do Corínthians é mais concentrada em São Paulo e estados vizinhos. Torcedores do Flamengo que moram em regiões distantes do Rio torcem para um time local e para o Flamengo”, disse, não exatamente com essas palavras. Como se o corinthiano do interior paulista não torcesse TAMBÉM pelo time da sua cidade.

A fidelidade da torcida pode ser contestada em números: lógico que com boa fase, a torcida enche o estádio, mas o que dizer do ano 2000, quando o penúltimo lugar na Copa João Havelange veio acompanhado do 12° lugar na média de público? Me lembro bem da Libertadores de 2006, quando a torcida (bem verdade que era a gangue da Gaviões da Fiel) tentou invadir o campo na partida contra o River Plate, no Pacaembu. Será que eles queriam “empurrar” o time às margens do gramado?

Além do mais, torcida fiel mesmo é a do Santa Cruz, que conseguiu ano passado a melhor média de público entre todas as divisões do Campeonato Brasileiro, mesmo o time sendo eliminado na segunda fase da Série D. Um ano antes, torcedores iam ao Estádio do Arruda simplesmente para assistir o replantio do gramado e algumas obras de melhorias do estádio.

O rebaixamento corinthiano em 2007 pode ter ganho proporções grandiosas pela quantidade de torcedores, mas não doeu mais neles do que doeu no coração de qualquer torcedor que viu seu time ser rebaixado. No Brasil, existem doze clubes que, se rebaixados, causam barulho, e dão projeção à Série B.

E como seria encarada a épica “Batalha dos Aflitos”, se o adversário do Náutico fosse o Corínthians? Seria o maior caso de heroísmo da humanidade desde os 300 de Esparta...

Cada clube tem sua particularidade, sua especificidade, bem como seus bastidores políticos e sua torcida. Todos têm uma relação de vitórias sofridas, um rol de craques, jogadores apenas esforçados que adquiriram status de ídolos e feitos aumentados com o tempo, assim como vexames execráveis e uma sequência de cabeças-de-bagre que envergaram seus mantos. Isso sem contar as reclamações (infundadas ou não) contra os árbitros cegos ou corrompidos.

Talvez algum corinthiano cego de paixão (isso não é exclusividade de time nenhum) me inclua no grupo dos chamados antis, como se o mundo fosse bipolar, assim como era em tempos de Guerra Fria. Nessa visão grosseira, todas as outras torcidas, movidas pelo ódio e/ou pela inveja formam uma legião do mal contra os guerreiros de São Jorge. Ora essa, como se eles vissem com indiferença quando seus rivais, especialmente os três de São Paulo entrassem em campo. Imagino a torcida alvinegra indiferente à seus adversários jogado uma final...

O amor cega, independente do tamanho da torcida.