quinta-feira, 8 de setembro de 2011

RECUPERANDO O TERRENO



Ao analisar o Argentina x Brasil de ontem, deixo claro que não dá para ver o jogo sob a mesma ótica da rivalidade do futebol se é que essa rivalidade é tão grande assim. Já disse que a rivalidade político-cultural entre os dois países é uma tradição inventada, bem no estilo de Hobbsbawn.


E mesmo a rivalidade futebolística não pode se transpor para outros esportes: no Hóquei de Grama e no Rugby os brasileiros são adversários de menor expressão; assim como o inverso acontece na Natação e no Futsal. A Argentina vive fase fantástica no tênis, e os brasileiros, no vôlei.

O ocaso do basquete brasileiro coincide com a ascensão do argentino, vice-campeão mundial em 2002 e campeão olímpico em 2004, competições em que os americanos enviaram seus atletas da NBA. A brilhante geração, comandada em quadra por Ginnobili e Scola e fora dela por Ruben Magnano. Enquanto isso, os brasileiros não vão às Olimpíadas desde 96, sofrem com problemas dentro de quadra (defesa falha e jogo coletivo inconsistente) e fora dela (brigas políticas na cartolagem e até mesmo a divisão do torneio nacional em duas ligas).

Os atletas que atuam na NBA (Nenê e Leandrinho, especialmente) não demonstravam muito interesse em defender o selecionado, e quando atuavam, o esquema era montado de tal forma que girassem em torno deles, e mesmo com o carimbo de profissionais da principal liga do mundo, não resolviam.

Em 2007, a contratação do espanhol Moncho Moonsalve foi encarado pelos técnicos tupiniquins como uma ofensa. “Ele não conhece os jogadores e o estilo brasileiro”, disparou Marcel, curiosamente um dos candidatos à vaga. Mas, a oxigenação era necessária, não só pela ausência em Olimpíadas, mas também pelos Mundiais, onde o time chegou a nem se posicionar entre os 16 melhores.

Mas, o time com Moncho ainda não havia passado do “quase”, e a CBB, em um surto de ousadia, contratou Rubén Magnano para comandar o time. Alguma evolução foi verificada no Mundial do ano passado, o time ficou em décimo lugar, perdendo um jogo parelho com a Argentina. Verdade que uma derrota evitável perante os eslovenos colocou os vizinhos no caminho dos brasileiros ainda nas Oitavas-de-Final.

Com o mimimi de Leandrinho (alegou contusão, de novo) e de Nenê (alegou problemas pessoais), Magnano ainda se viu sem Varejão (passou por cirurgia no tornozelo), e com isso, se viu obrigado a desenvolver um jogo mais coletivo, solidário, que abriu vaga para que se destacassem Huertas, Splitter e Heinteinteinner. De início irregular no torneio (chegou a perder para a República Dominicana), o time pode ter ganho a confiança definitiva após a vitória de ontem.

Se a classificação for sacramentada, Nenê e Leandrinho serão enviados para o limbo. O segundo, recém-transferido para o Flamengo, poderá escutar in loco o repúdio dos torcedores. De desertor para baixo. E se quiserem estar nos ginásios de Londres, que garantam logo um convite vip ou que corram atrás de ingressos.

Magnano conseguiu montar um grupo como Scolari fez com a o time da CBF em 2002, mas o título olímpico é quase uma utopia (os EUA enviarão atletas da NBA) e uma medalha é quase um sonho difícil. Ainda mais se compararmos as dificuldades da geração de Oscar, que tinha as antigas Iugoslávia e União Soviética como adversárias (o esfacelamento delas gerou quase meia-dúzia de ótimas seleções) e os americanos enviavam universitários para as competições internacionais.

Se ficar entre os oito primeiros, a missão estará cumprida.

De marcante, fica a recepção calorosa que Magnano recebeu em Mar Del Plata. Se, por exemplo, um vitorioso técnico brasileiro, como Bernardinho vier para cá comandando um selecionado argentino, o torcedor brasileiro saiba recebê-lo com respeito e reconhecimento.