sexta-feira, 9 de setembro de 2011

VIDA DE GADO



Torcedor é um sujeito curioso: por um serviço, paga caro, é mal-atendido desde o momento em que compra o ingresso até a hora em que volta para casa. É submetido à sol e chuva, não tem lugar para estacionar o veículo, e quando encontra, é extorquido pela máfia dos flanelinhas (que agem sob a vista grossa das autoridades), tem um serviço público de transporte ineficiente e desumano (ônibus e trens lembram latas de sardinha), na maior parte dos estádios, assiste ao jogo sob o jugo da instabilidade da natureza, e nos meios de semana a um horário ofensivo a tal ponto de que não é raro que um indivíduo chegue em casa de madrugada com apenas poucos minutos para se arrumar e encarar um dia de trabalho.


E mesmo com a posse do desejado ingresso, corre o risco de ficar barrado nas catracas, sob as mais ridículas alegações (os promotores jocosamente apenas oferecem a devolução do valor das entradas).

A compra de ingressos é um caso que estranhamente, não é investigado: o sistema de compras é nebuloso, os ingressos se esvaem das bilheterias e vão parar nas mãos de cambistas (que também agem debaixo do nariz das “otoridades”). Gangues denominadas Torcidas Organizadas recebem ingressos gratuitos (e ainda os revendem!) das diretorias para espantarem qualquer cidadão de bem dos estádios, e ainda são saudados por jogadores e dirigentes como se representassem de fato a coletividade de torcedores. Nunca passei para Organizada alguma qualquer procuração para falar em meu nome.

“Autoridades”, “celebridades”, puxa-sacos, aspones e “chegados” circulam livremente por áreas reservadas à imprensa e atletas, por vezes provocando e participando de tumultos. A quantidade de público não-pagante chega a assustar, assim como quando são anunciados públicos medianos em estádios lotados. Será que as praças esportivas encolheram?

Quarta última, nos arredores do Engenhão, torcedores mal-informados ou mal-intencionados iam em busca de ingressos, mesmo com a diretoria já tendo anunciado o esgotamento. Faltou juízo à organização do evento, que não fez o recomendado “cordão de isolamento” em torno do estádio, para evitar que somente aqueles com a entrada na mão pudesse passar.

Isso tudo no “moderno” Engenhão, concebido para ser modelo para arenas até mesmo da Copa do Mundo. No país da Copa, se paga uma fortuna para (talvez) assistir o jogo espremido como gado, pagar caríssimo por um lanche meia-boca e ser exposto aos vândalos patrocinados pelo próprio clube.

Quem vaio ao estádio, vai por muito amor mesmo