domingo, 1 de maio de 2011

DEZESSETE ANOS




Mais ou menos nesse mesmo horário, há dezessete anos atrás, era anunciada a morte cerebral de Ayrton Senna. Eu normalmente sou um desses caras que acreditam em milagres médicos, apesar de ser bem racional em outros aspectos da minha vida.

Senna morreu como heroi, para logo se tornar mito. Seus feitos são propagados pelas imagens guardadas, e amplificados pela História Oral. Não raro, quem o viu correr o transforma em semideus.

"Não tinha carro ruim para ele"; "Ele foi o melhor de todos os tempos"; "Ele lutou contra dirigentes e pilotos trapaceiros". Já ouvi bastante disso desde 1994.

Senna foi o melhor que já vi correr. Um pouco à frente de Prost e Schumacher, que são seguidos por Hakkinenn, Alonso e Mansell logo a seguir. Não vi o auge de Nelson Piquet, na primeira metade dos anos 80, então não posso emitir opinião sobre ele.

Senna também jogou sujo. Na guerra de bastidores dentro da Mclaren com Prost, ele também jogou sujo.

Vale lembrar que a equipe inglesa venceu 15 das 16 provas de 88, e só não venceu todas porque o carro de Prost quebrou e Senna foi avacalhado por um retardatário em Monza.

Para se vingar de uma manobra desonesta de Prost, que lhe valeu o título em 89, Senna fez o mesmo no ano seguinte.

Esculhambou a Mclaren, menosprezou a equipe que lhe proporcionara o tricampeonato ao implorar dirigir a Williams em 92 e 93.

Mas também não se pode menosprezar o gênio: Senna foi o mago da chuva dezenas de vezes.

Senna foi o piloto da volta mais fantástica que já vi, saltando de quinto para primeiro na Inglaterra, em 93.

Em 93, com um carro inferior ao da Williams, conseguiu arrastar a disputa com Prost até quase o fim.

Senna era o mago da pole. Nunca vi um piloto tirar tanto de um carro em uma única volta.

Caso levasse a sua carreira até os 38 anos, por exemplo, teria pelo menos empatado os cinco títulos de Fangio.

Senna ganhou áurea de heroi, amplificada com sequência de pilotos brasileiros que decepcionaram ou não passaram de meros figurantes na Fórmula 1.

Nem deus, nem Dick vigarista, Senna foi humano.

Que passe para a História como um genioso genial, ou genial genioso.