quarta-feira, 20 de abril de 2011

COOPTADOS




Ótima reportagem em A GAZETA há algum tempo atrás, sobre a participação de líderes comunitários na política. O título “Casa, dinheiro e cargos para líder comunitário que der apoio” é cabal.


Embora ninguém (obviamente) admita a prática, todos os políticos e líderes comunitários confirmam que a cooptação é comum. O esquema é fácil de ser entendido: em troca de apoio e fazer “o meio-campo” entre políticos e população, os líderes recebem as benesses pessoais.

Normalmente são elementos que moram em bairros onde os políticos têm a sua base eleitoral.

Algumas declarações:

“Candidatos (...) acham que o líder comunitário é o dono do voto” (Marcos Antônio do Espírito Santo, líder comunitário de Terra Vermelha)

“Muitos me procuram, mas fecho com o prefeito que está. Apoio do líder é básico para a eleição” (Jenílson Marques, lider comunitário em Vila Nova de Colares). O detalhe é que Jenílson é funcionário comissionado da prefeitura.

“Não é errado o líder pleitear obras. O errado é ter relação financeira e benefício pessoal” (Deputada Estadual Aparecida Denadai)

“Houve cooptação de líderes comunitários por mandatários políticos e prefeitos, com empregos para a família, inclusive. E não raro um líder tem vínculo com partido ou candidato. Perde-se o caráter de luta (Deputado Estadual Cláudio Vereza)



“Por trás de uma liderança fraca ou cooptada, está uma comunidade desatenta ou desmobilizada” (Desireè Cipriano Rabelo, Cientista Política e Professora da UFES)

A opinião de Desirée é emblemática: isso só ocorre quando a comunidade permite.

O fato é que os movimentos sociais deixaram de serem contestadores para serem submissos, ou o pior: trampolins eleitorais para quem nele ingressa. Os interesses pessoais dos líderes se sobrepujaram aos interesses dos grupos que representam.

Reuniões como o Orçamento Participativo, se tornaram sessões bajulatórias, normalmente frequentadas pela camarilha de quem está no poder. Culpa da própria comunidade que aceita resignada as reuniões direcionadas que são realizadas (na hora de escolher as melhorias, têm que escolher entre Francisco, Chico, Chiquinho e Francisquinho), isso quando vai às reuniões.

Quem se omite das decisões, não pode reclamar delas.

A Prefeitura da Serra veicula uma peça publicitária em que líderes comunitários elogiam a maneiras como são aplicados os recursos municipais. Um deles faz elogios ao chefe do Executivo Municipal. Propaganda pessoal financiada com recursos do erário.

Alô, Ministério Público!