quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

LEGIÃO ESTRANGEIRA OU NATURALIZADA?



























A estratégia de naturalização em massa de atletas na Europa pode ser definida como atirar no que se vê e acertar naquilo que não se vê. A globalização do jogo e a afluência de talentos rumo ao Velho Continente fizeram com que praças antes secundárias vissem seus representantes saírem do posto de figurantes para serem figuras respeitáveis no futebol internacional.


A citada afluência levou para a Europa indivíduos de países antes pouco respeitados no cenário de seleções, posição alterada com o upgrade proporcionado pela convivência contínua com os melhores d mundo, fenômeno verificado principalmente no futebol africano, que até os anos 80, tinha fama de ingênuo e irresponsável taticamente. A ida em massa de seus principais valores ainda jovens para o exterior proporcionou o intercâmbio necessário para que seu talento se desenvolvesse e suas seleções adquirissem respeito mundial.

Algumas outras seleções se fortaleceram, especialmente no extremo Oriente, que fizeram o intercâmbio trazendo talentos de fora.

Se os clubes europeus se fortaleceram, o mesmo não pode se dizer de suas seleções. E diante dessa perspectiva de enfraquecimento provocada pela perda de "reserva de mercado", acelerada pela diminuição de barreiras para estrangeiros, especialmente após a chamada Lei Bosman. Os atletas embarcam na estratégia para buscar uma chance que não teriam nos concorridos selecionados de seus países (caso de brasileiros e argentinos, por exemplo), ou para terem chance em um selecionado de mais prestígio (caso de africanos).

Saindo dos gramados e indo para as quadras de futsal, a Itália mostrou um caso berrante: dos quatorze atletas inscritos no Mundial de 2008, doze eram nascidos no Brasil, e mais tarde, se aproveitaram de brechas legais para atuarem na Azzurra. Trata-se de um caso extremo, que teme-se transformar em regra. Esse "Brasil B" enfrentou nas semifinais o "Brasil A", e perdendo. Espanha e Rússia, que também contavam com brasileiros eram os outros semifinalistas.

Retornando aos gramados, contribui para essa transferência, conforme afirmado anteriormente, a excessiva concorrência dentro de alguns selecionados, onde a disputa ferrenha é capaz de renegar ao esquecimento figuras cobiçadas em diversos países. Caso do brasileiro Deco, naturalizado português para que em um primeiro momento, e como ele próprio reconheceu, dificilmente chegaria à seleção brasileira.

Naturalizado em 2002, foi convocado para defender os Tugas no ano seguinte por seu compatriota, Luiz Felipe Scolari. sob chuvas de protestos da imprensa, jogadores (inclusive da seleção) e treinadores, estes enciumados por perderem a chance de comandar a equipe nacional para um estrangeiro, a quem acusava de não conhecer os meandros do futebol local. Embora as críticas não contivessem racismo, fica clara a semelhança com o discurso de pureza nacional manchada por forasteiros, típico da extrema-direita.

Esse recurso, outrora esporádico, acabou se multiplicando. Nos últimos anos, a seleção alemã apresentou na sua lista de atacantes os poloneses Klose e Podolski, o ganês Asamoah, o suíço Neuville, o brasileiro Kuranyi e os filhos de imigrantes Mario Gomez e Odonkor, embora a maioria deles já residisse no país ainda na infância ou adolescência. Os germânicos, desde a geração campeã mundial em 1990, enfrentam uma crise de reposição de talentos, e diante disso, ampliar o leque de opções se faz necessário, mesmo na Alemanha, país cujas feridas do nazismo não cicatrizaram.

Como a globalização não é exatamente um processo de mão única, a migração ocorre também em um sentido inverso ao descrito: durante os períodos coloniais, assim como era comum os colonizados irem para as metrópoles em busca de oportunidades, o inverso também ocorria.

Ora, se no mundo do futebol, países ricos se aproveitam de sua superioridade econômica para acelerar o afluxo de estrangeiros e reforçarem seus selecionados, países periféricos também se utilizam do mesmo estratagema: nos anos 90, o técnico brasileiro Renê Simões, ao assumir o selecionado jamaicano, foi até a Inglaterra garimpar jogadores que por ascendência ou casamentos, pudessem atuar pelos Reggaes Boyz, e conseguissem uma classificação inédita para a Copa do Mundo, em 1998

Para encerrar, mais dois exemplos: na Copa da Alemanha, Togo tinha em seu time sete atletas nascidos além de suas fronteiras; o meia Cris Birchall, colocou os pés pela primeira vez em Trinidad e Tobago, terra de seus pais, para atuar no selecionado local.