sexta-feira, 23 de julho de 2010

OLE!



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25/07/07

Cultura & Mídia

Olé

Poucas publicações esportivas estrangeiras são tão conhecidas no Brasil quanto o Olé. O jornal com sede em Buenos Aires sempre entra na pauta da imprensa brasileira por supostamente representar o que pensa o torcedor argentino. E não é sem motivo. O diário portenho nunca escondeu sua linguagem polemista e não se cansa de cutucar sempre que um argentino vence um brasileiro e de fingir ignorar quando ocorre o contrário. Isso deu à publicação uma fama de popularesca, o que não é completa verdade.

De longe, parece realmente que o Olé tem baixo nível. As capas são chamativas, com manchetes em letras garrafais e conteúdo debochado e provocador. Em bom português, é “linguagem de torcedor”, passional e sem a imparcialidade exigida de um profissional de imprensa. No entanto, o argentino não vê a provocação explícita – inclusive entre seus clubes – como algo necessariamente sensacionalista. Para eles, é algo inerente ao futebol (observação: nesse quesito, o diário argentino comete um grande erro, que não pode ser perdoado em nenhum sentido: passa do limite da provocação de bom gosto ao chamar os brasileiros de “macacos”. Qualquer brincadeira que tem tom racista deve ser condenada).

Ver as capas apenas como polêmica e populismo pode esconder alguns méritos do jornal. É inegável que muitas delas são criativas e bem humoradas, com coragem para colocar notícia ruim como chamada principal ou escondê-la despudoradamente como forma de brincar com a “tragédia”. O futebol é uma brincadeira acima de tudo, fato que não é esquecido pelos argentinos.

De qualquer maneira, o lado bom do Olé não são as capas. Nas páginas internas, a cobertura esportiva tem pontos bastante positivos. Os textos têm qualidade invejável se comparado com seus congêneres brasileiros, com relatos de jogos quase ensaísticos, relatando o clima da partida ao invés de apenas descrever lances. A profundidade do noticiário é acima da média, com quantidade razoável de análise e sem enrolações típicas de quem precisa preencher página por obrigação e não sabe mais o que escrever.

É claro que Boca Juniors e River Plate têm mais atenção que os demais clubes. Ainda assim, as equipes pequenas recebem uma dedicação raramente vistas no Brasil, até porque fica evidente que o Olé sabe que torcedores desses times também compram jornal. Assim, se o Banfield vencer no único jogo da sexta (quando as rodadas são abertas na Argentina), há uma chance de a capa ser dos banfileños.

Quem ler o Olé com cuidado e a mente aberta, verá um jornal com vários méritos. Não representa uma revolução em jornalismo esportivo, com linguagem inovadora que deva ser idolatrada por todos. Mas certamente o diário portenho é muito mais do que um monte de páginas populistas com uma capa polêmica para chamar a atenção.

Ubiratan Leal