quinta-feira, 25 de agosto de 2011

RENÚNCIA DE JÂNIO, 50 ANOS DEPOIS



Vocês certamente já ouviram falar em Jânio Quadros. Foi aquele presidente da República que renunciou ao mandato depois de apenas sete meses de governo. Um período curto, mas que deu tempo para ele proibir as brigas de galo, lançar a moda do safari para enfrentar o calor do País tropical, e, ah…sim, chegar ao cúmulo de proibir o uso do biquini, etc…etc…e deixar o Brasil numa bananosa que acabaria resultando no golpe de 64.

Na próxima semana, completam-se 50 anos da renúncia de Jânio Quadros. No dia 19 de agosto de 1961 ele condecoraria Che Guevara que visitava o Brasil. No dia 25, renunciaria, embora ainda se questione se ele de fato estava querendo deixar o poder ou corria atrás de mais poder, retornando nos braços do povo, como se dizia na época.

A resposta para essa pergunta ainda atormenta historiadores da política brasileira contemporânea. Claro que alguns indícios apontam para um retorno triunfal. No dia 25 de agosto de 1961, o vice-presidente João Goulart estava em visita oficial à China. Naquele tempo, voltar da China era um problema. Hoje, com o Aero-Lula, a presidenta Dilma Rousseff levou quase dois dias para retornar. Imaginem sem o Aero-Lula.

Outro indício de que a renúncia não era para valer: Jânio embarcou para São Paulo levando a faixa presidencial, que teve de voltar a Brasília trazida pelo seu ajudante-de-ordens.

Para todos os efeitos, Jânio era um político aposentado, depois de uma carreira fulminante, que o levou da Câmara Municipal de São Paulo a Brasília em pouquíssimo tempo. Ele foi o primeiro presidente a tomar posse na “solidão do Planalto Central”, o que o incomodava muito. Essa solidão, diga-se, foi um tema recorrente na nossa longa conversa, 35 anos atrás.

indefinição sobre quem seria o sucessor de Jânio durou 13 longos dias. Nesse período, quem esteve à frente do governo foi o presidente da Câmara, Ranieri Mazzili, que tomou posse quando o vice-presidente da República, João Goulart, estava em viagem oficial à China. Para acalmar os militares, que não queriam Jango na Presidência, foi aprovada rapidamente uma emenda constitucional para instituir o Parlamentarismo: o presidente seria apenas o chefe de Estado, cabendo ao primeiro-ministro, a ser escolhido pelo Congresso, a função de tocar o governo.

Resolvido o impasse, Jango tomou posse no feriado de Sete de Setembro e tentou acalmar os ânimos, ainda exaltados. O historiador Antonio Barbosa não tem dúvida de que a renúncia de Jânio Quadros foi um fator decisivo para a queda do regime democrático. Esse 25 de agosto de 1961 significou o primeiro grande passo para o fim, para o colapso iniciado em 1946. Ou seja: 25 de agosto abre as comportas para um processo extremamente turbulento, extremamente revolto, que deságua no 1º de abril de 64. Foi literalmente uma tentativa de golpe que não deu certo.

Por fim, seu vice, João Goulart, que no momento fazia uma viagem à China comunista, assumiu o poder – fato que reforçou a resistência das elites conservadoras e militares, e que, no fim, culminaria com o golpe militar de 1964.