sábado, 4 de junho de 2011

ANATOMIA DE VÁRIAS BOÇALIDADES


Esperei passar um tempo, colher informações e opiniões, para depois opinar sobre os acontecimentos referentes aos protestos de estudantes em Vitória, nessa semana.


É muito tentador escrever acusando esse ou aquele disso ou daquilo.

Por isso, vamos lá:

S obre as reivindicações: a solicitação de passe-livre é inviável, por uma série de questionamentos (quem vai pagar a conta? Como coibir que o passe seja usado indiscrimidamente?), e a reversão do aumento das passagens é plausível, desde que seja feito um levantamento sério na planilha.

Aí está outro ponto: quem fiscaliza a elaboração da tarifa? Os dados apresentados passam por auditoria externa? Vale lembrar que o Tribunal de Contas, presidido pelo condenado Umberto Messias não tem autoridade moral para tanto.

Quanto à qualidade do serviço, a reivindicação é mais que legítima, já que os veículos são pocilgas abarrotadas de gente com horários e trajetos que deixam muito a desejar. R$ 2,30 por esse serviço porco (que me perdoem os suínos) está caro demais. Aliás, gostaria muito que Fábio Damasceno, Secretário de Transportes e porta-voz do governo perante a imprensa no caso, passasse uma semana se dirigindo ao trabalho e fazendo os deslocamentos necessários via transporte coletivo (não vale o seletivo). Se ele tiver coragem, claro.

Sobre a manifestação: a ação acabou prejudicando as classes baixa e média, justamente quem mais precisa do transporte e da fluidez do trânsito. Se fechassem meia-pista retardariam, mas não paralisariam o deslocamento alheio. A coisa do modo como foi feita gerou muita antipatia ao movimento. Além do mais, depredar patrimônio público e de gente trabalhadora não é de longe o melhor meio de reação.

Sobre a ação da polícia: O Batalhão de Missões Especiais deveria “limpar” o trânsito, só isso. Agredir gente algemada, prender cidadão que apenas filmava os acontecimentos, ou jogar bombas de diversos tipos em direção à UFES (área federal, onde estavam presente inclusive crianças) é coisa de gente truculenta e despreparada para o exercício da função. Queria ver essa mesma polícia presente aqui, o segundo estado mais violento da federação, e queria ver essa turma agir com essa bravura toda ao adentrar em bairros como Cobi, Morro do Quadro, Central Carapina...

Sobre a manifestação do governo: nos acontecimentos de Aracruz, há alguns dias, o governo determinou “apuração” (que óbvio, não redundará em punição de ninguém) dos fatos. Dessa vez, nem isso. Aliás, afora o Secretário de Transportes, ninguém abriu a boca na quinta. Na sexta, uma propaganda na TV, apenas. E Givaldo Vieira, o governador de plantão, mergulhou. O titular, Renato Casagrande, ninguém sabe onde está.

Sobre a partidarização do movimento: a UNE e a UBES negaram a autoria da revolta. Fato é que diversos membros desse movimento são ligados à PSOL e PSTU. Com certeza, tirarão proveito eleitoral em breve. Com qualquer pessoa com razoável conhecimento do cenário partidário sabe, os partidos citados são mais oposição ao PT que até mesmo PSDB e DEM. Portanto, é coisa de toupeira associar essas pessoas ao partido. Além do mais, o Governador de Plantão é filiado ao ex-Partido dos Trabalhadores, se é que um dia foi.

Sobre a cobertura da imprensa: não é por acaso que as redes sociais são as melhores opções de informação. As abordagens da TV Tribuna e da TV Vitória buscaram pelo menos o equilíbrio. Já a TV Gazeta serviu como assessoria de imprensa do governo, descrevendo a épica batalha entre “a malha protetora da sociedade contra um bando de baderneiros que se arrogam no direito de prejudicar a população para satisfazer os seus vis desejos”. Na sexta, as capas de A Gazeta e de A Tribuna seguiam a linha governista.

Sobre a repercussão: com os ânimos exaltados, o duelo de opiniões era entre “esquerdoides baderneiros” contra “burguesinhos alienados”. Nas redes sociais, é preciso peneirar as opiniões e saber o que deve ou não ser aproveitado como embasamento. Mas, acima de tudo, manter a própria opinião.