sexta-feira, 15 de outubro de 2010

MEDO



http://www.correiodeuberlandia.com.br/texto/2005/11/20/14158/violencia_na_sala_de_aula.html
Violência na sala de aula


Educadores ameaçados e amedrontados se tornam reféns de uma minoria de alunos
GLEIDE CORRÊA - Repórter
Atualizada: 14/06/2010 - 10h02min

Depredações, vandalismo, assaltos, medo e insegurança há muito tempo rondam o ambiente escolar, mas também já ultrapassou os muros e se instalou dentro da sala de aula. Educadores ameaçados e amedrontados se tornam reféns de alunos — uma minoria na sala de aula, mas que assusta pela ousadia e indisciplina. De um lado professores que têm como arma apenas o diálogo com palavras firmes e comedidas. Do outro, "crianças" que intimidam com promessas de perseguição, ameaças de morte e até mesmo com porte de armas de fogo.


Na Vara da Infância e Juventude chegam diariamente pedidos de socorro por meio de denúncias por escrito, anônimas ou telefonemas. De acordo com o juiz Edison Magno de Macedo, há casos de meninos que levam estilete, revólver e faca para dentro da sala de aula e fazem ameaças. "Já prendemos em flagrante e levamos algemados para a delegacia meninos que estavam agredindo professor ou colegas", lamenta o juiz. A Polícia Militar, por meio da Patrulha Escolar, também precisa intervir constantemente para dar suporte aos professores e diretores dos estabelecimentos de ensino.


Os depoimentos dos educadores - que por questão de segurança não serão identificados - é estarrecedor. "Eles disseram que nunca me esqueceriam, sabiam qual era o meu carro, onde eu morava e me dariam um tiro de 12 na minha testa. Na hora senti pavor, mas não esmoreci", relata a educadora de uma escola da rede pública de ensino. Detalhe: a ameaça foi feita por dois alunos de 13 e 14 anos que cursavam a 4ª série do ensino fundamental. A supervisora precisou intervir após uma confusão generalizada provocada por três estudantes e que culminou com a destruição de equipamentos. A resposta deles ao pedido de respeito ao professores e aos colegas foram as ameaças.


A violência que ronda as escolas atinge todas as classes sociais, mas é mais presente nos bairros mais carentes. O motivo, segundo os especialistas, é a falta de estrutura familiar e a carência financeira e muitas vezes afetiva que levam a uma degradação dos valores morais e éticos que norteiam a sociedade. "Muitas vezes a violência é em decorrência de um histórico familiar de brigas, drogas e prostituição", enumera um policial que integra a Patrulha Escolar.


Esse conjunto de fatores que compõem o dia-a-dia de crianças e jovens faz com que chequem à sala de aula sem noções de limites e respeito ao colega e muito menos ao professor. De acordo com os educadores, a escola tem cada vez mais um papel preponderante na formação e também para reverter a situação de degradação. Conscientes de seu dever, as escolas dão mostras de que a atitude dos profissionais dá bons resultados. "O professor tem que fazer uma escola melhor, com um ambiente mais fraterno, pois só assim conseguiremos melhores resultados", define Solange Silva Bastos, diretora da escola Estadual Jerônima Arantes, do bairro Taiaman. Segundo ela, a violência foi contida com ações conjuntas com a comunidade e as autoridades. A orientadora de outra escola que preferiu não ser identificada também tem um pensamento semelhante. Para ela, a violência da escola está na forma como se acolhem os alunos. "Todos os funcionários ligados à educação precisam entender que a linguagem é tudo. Com uma palavra você muda todo um cenário de violência."


Para o juiz Edison Magno, a família precisa dar sua parcela de contribuição. "Um bom número de pais já não tem mais nenhuma autoridade sobre seus filhos, que foram criados de forma equivocada. Os pais precisam ensinar seus filhos a ter limites, que os direitos dos outros precisam ser respeitados", opina o magistrado. Para ele, se o pai não ensina seu filho a se comportar socialmente ele vai ter problemas, pois vai viver em sociedade e não isoladamente onde pode fazer o que quiser e da forma como convier. O juiz vai mais longe e afirma: "Temos que parar com essa bobagem de que o pai não pode dar uma palmada, não pode dar um castigo. O que a lei pune são os excessos".


Ações educativas podem ser eficazes para conter violência


A violência que aumenta e assusta os profissionais pode ser contida com ações educativas e com a transformação do ambiente escolar para torná-lo mais acolhedor e possível de provocar mudanças. Quem garante são os próprios educadores, que buscam alternativas para conter o avanço do desrespeito e perigo vivenciado nas instituições de ensino.


Atividades esportivas e culturais foram a alternativa encontrada por uma escola pública na zona Oeste da cidade para diminuir os índices de violência cometida por alunos. "A escola tem uma proposta mais humana de trabalho, com projetos extraclasse diversificados, como coral, musicalidade, dança, desenvolvimento espiritual e palestras de orientação sexual", exemplifica uma das educadoras da unidade.


Os profissionais apontam também a necessidade de uma postura mais amistosa entre alunos e professores. Na opinião de uma orientadora, a violência da escola está na forma como a instituição acolhe os alunos. "Precisamos nos conscientizar que a nossa postura é de intervenção e conciliação. Não podemos nos posicionar perante o aluno e família achando que somos donos absolutos da verdade. É preciso saber ouvir", pondera.


Para Solange Silva Bastos, diretora da escola Estadual Jerônima Arantes, no bairro Taiaman, o processo de conscientização é em longo prazo e deve ser contínuo. Na escola, ela conta com o auxílio da Patrulha Escolar e também com os Comissários de Menores, que fizeram palestras sobre cidadania, respeito ao próximo, educação, direitos e deveres, entre outros. "Sempre falo para minha equipe que estas crianças-problema são frutos do meio e a gente precisa mostrar que elas (as crianças) podem confiar, podem se sentir seguras", frisa Solange Silva.


Para a psicopedagoga Maria Irene Miranda, a conduta do professor é determinante para conter ou desencadear a violência. "Muitas vezes o que o aluno precisa é ser ouvido. Isso não significa passar a cabeça na mão do aluno. É preciso ter limite, mas é preciso fazer isso de forma afetiva, porque de violência o aluno já está cheio", aponta Maria Irene.


Patrulha especializada é um aliado das escolas


A Patrulha Escolar implementada pela Polícia Militar é um trabalho ostensivo realizado por policiais preparados para lidar com a comunidade escolar, em especial os alunos. O trabalho não se limita apenas à repressão, mas principalmente à prevenção. Além da ronda ostensiva, os militares fazem palestras, vão à casa dos estudantes que apresentam algum desvio de comportamento e tentam sanar os problemas. Quando se esgotam todas as alternativas, a patrulha encaminha-os ao Conselho Tutelar ou diretamente ao juiz da Vara da Infância e da Juventude.


Para as escolas, a Patrulha é um aliado importante e tem produzido bons resultados. "É um grande suporte. Já tive muitos problemas, mas agora com o trabalho da Patrulha de conscientização não temos mais casos graves como antes", aponta a diretora Solange Silva Bastos, da escola Estadual Jerônima Arantes. Ela teme, no entanto, que a Patrulha seja desativada, pois, segundo ela, os militares não farão mais a ronda neste final de ano. O capitão Moacir Pereira da Silveira, responsável pela 109ª Cia de Polícia que atende a região Oeste, confirma que a patrulha está sendo utilizada no policiamento ostensivo, mas garante que sempre que solicitado atenderá prontamente ao chamado.


Os alunos que apresentam algum desvio de comportamento são reunidos pela escola e os policiais vão à casa dos estudantes para fazer um levantamento do histórico destas famílias e traçar medidas Socioeducativas por meio de palestras e até mesmo de ajuda material.


A Patrulha Escolar conta com apenas quatro equipes para atender toda a cidade. O tenente Marcus Fabian Figueiredo Dias, do 17º Batalhão de Polícia, reconhece que o efetivo é muito pouco para atender toda a cidade. Segundo ele, o comando da PM tende a aumentar o efetivo, mas não há nada definido.


Depoimentos


"Durante uma aula de videoliteratura, os alunos da 4ª série estavam muito agitados e começaram a destruir tudo. Chamei a atenção deles, falei sobre a questão do respeito ao professor, que estava ali para ensinar e eles não estavam permitindo que a aula acontecesse. Fui atender a outro chamado e quando retornei um grupo de três ou quatro alunos estava muito exaltado e disseram que nunca me esqueceriam, que sabiam onde eu morava, e me daria um tiro de 12 na minha testa. Na hora senti pavor, mas não me esmoreci. Chamamos a patrulha e os responsáveis legais, que ficaram horrorizados com o comportamento dos filhos. Senti medo e insegurança. Depois que cheguei em casa chorei muito, mas no dia seguinte fui trabalhar normalmente. Procurei chegar no horário de maior movimento e procurava sair com mais velocidade. Quando encerrou o semestre pedi para mudar de escola. Agora estou mais tranqüila. Nunca mais voltei na antiga escola e não sei como estão estes meninos hoje."


"Era uma turma muito boa, mas tinha um aluno que sempre arrumava confusão. Ele foi transferido de várias salas porque nenhuma professora suportava mais o menino, que todas as vezes que chamavam sua atenção respondia com palavrões e dizia que ia contar para o pai. Um dia, a sala estava toda agitada e ele aproveitou para mostrar sua força. Quando me aproximei dele e disse mais incisivamente para que ele me deixasse dar aula, ele me deu um soco no rosto. Peguei-o pelo braço e o levei para o serviço de orientação da escola. O pai foi acionado e preferiu transferir o filho da escola. Eu fiquei com medo, mas não dá pra desistir da profissão."