sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A CULPA É SÓ NOSSA?



http://www.sinpro-rio.org.br/publicacoes/jornal/jp34/fantastico.html

Reportagem do Fantástico gera reação da categoria

Será verdade que a violência psicológica é prática comum nas escolas?

O programa televisivo Fantástico exibiu, em 21 de novembro de 2004, reportagem com depoimentos de educadores e pais de alunos sobre a imposição de castigos por professores. Segundo a matéria, uma pesquisa na região do Vale do Paraíba (interior de São Paulo), teria revelado que 54% dos 520 alunos de 8ª série entrevistados queixam-se de apelidos recebidos por parte dos professores. E que de 30 a 40% dos professores “gritam com seus alunos, de forma que eles se sentem humilhados, inferiorizados, desorientados dentro da sala de aula”.

O Sindicato recebeu diversas manifestações de associados indignados com o enfoque do programa. Na semana seguinte, o Fantástico deu a palavra a professores com relatos de humilhação sofrida em escolas. O representante dos educadores na matéria foi o Sindicato de Professores do Ensino Oficial de São Paulo, que apresentou outra pesquisa, segundo a qual 73% dos professores disseram que as aulas são prejudicadas pela superlotação das salas.

O Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro-Rio) entende o processo de valorização do educador como uma luta fundamental da sociedade como um todo, e não apenas da categoria. No VIII Consinpro foi aprovada moção de repúdio à veiculação em rede nacional dessa tentativa de caracterizar o professor como único responsável pela falência do processo educacional no país.

Duas diretoras do Sindicato, também atuantes na rede pública, expressaram-se para o Jornal do Professor sobre o tema:

"O professor, extenuado fisicamente, é também muitas vezes vítima de assédio moral. Tenho curiosidade em saber como seria o auto-retrato de uma professora de alfabetização que ouviu da dona da escola onde trabalhava: ‘Chega! Não vou mais querer velho epilético trabalhando aqui ano que vem’. A professora que ouviu esta pérola como resposta a sua cobrança de três meses de salários atrasados, fez um AVC que afetou sua capacidade de ler e escrever e, conseqüentemente, de prosseguir em sua carreira. O grande trabalho do jornalismo não é o de detectar em menor ou maior número a existência de professores com traços de autoritarismo, mas o de investigar como se chega a este ponto. De estudar como as condições de trabalho existentes hoje, quer no setor público, quer no privado, contribuem para essa visível deterioração na qualidade da relação professor-aluno".

Maria do Céu Carvalho

"São múltiplos os problemas que nós professores enfrentamos na sala de aula. Muitas vezes fogem à capacidade do professor, emocionalmente e cientificamente, razão que o autoriza a recorrer aos demais profissionais da escola (orientador educacional, psicólogo) e até a outros especialistas solicitados junto aos pais para atender o aluno. Outro fator importante é o número de alunos na sala de aula. O professor, sobrecarregado, acaba por ficar doente, precisando de atendimento. Esse pedido de socorro se dá, principalmente, quando a escola recebe alunos de inclusão sem o devido serviço de suporte para o educador. Com todos esses fatores, o professor é obrigado a ter uma postura mais enérgica, seja gritando para ser ouvido, ou até “castigando” de forma coerente e educativa, que leve o aluno a compreender o que é certo. A escola para mim tem a missão de ensinar mais do que a lição; tem que ensinar para a vida. É necessária sua integração com a comunidade por ela atendida".


Norma Ceribello