domingo, 13 de junho de 2010

A PEREGRINA SELEÇÃO DE ISRAEL



As suas relações externas

Em 2009, se encerrou mais um participação do selecionado de Israel nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. O resultado foi abaixo do esperado: em seu grupo, os israelenses ficaram atrás de Suíça, Grécia e Letônia, e o sonho de disputar o Mundial pela segunda vez (a única foi em 1970) foi adiado de novo . Disputando a qualificação no continente europeu (a mais difícil, ao lado do sul-americano), enfrentando equipes qualificadas e de tradição, Israel vê a sua tarefa dificultada.

Não é preciso ser um especialista em Geografia para saber que o país está no continente asiático, o que não impediu que sua seleção disputasse as Eliminatórias em quatro continentes, isso sem contar uma repescagem contra os colombianos em 1989.

A seleção peregrina

A situação política e principalmente bélica de Israel, forçaram a peregrinação futebolística antes mesmo da criação de seu Estado: em 1934, houve o confronto contra os egípcios e em 1938 contra os gregos; nas qualificações entre 1950 e 1966 os israelenses enfrentaram seleções européias, e mesmo assim, jogavam a Copa da Ásia, se saindo vencedores em 1964 e vice em 1968, perdendo para os iranianos na final disputada em Teerã, um confronto que após a Revolução Islâmica provocaria calafrios. Disputando o Mundial de 1970, após migrar para a Oceania e eliminar australianos e neozelandeses, o desempenho com uma derrota e dois empates não foi vergonhoso.

O agravamento de sua relação com os vizinhos, agravada após as Guerras dos Seis Dias (1967) e do Yom Kippur (1973), e os seus desdobramentos, com a Crise do Petróleo reforçaram a recusa de países do Oriente Médio em manter relações esportivas com o Estado judeu. Sendo assim, mesmo migrando para as qualificações asiáticas, os seus confrontos se resumiam aos adversários do Extremo Oriente e do Sudeste do continente. Nos anos 80, a peregrinação passou por Europa, Ásia e Oceania, até que a Federação Israelense foi definitivamente admitida como membro da UEFA, em 1992, e passou a modelar a sua organização interna segundo os padrões da entidade, com campeonato e copa nacional semelhantes aos seus pares da confederação.

A Europa é o melhor caminho?

A admissão facilitou intercâmbio com boa parte das melhores seleções e clubes do mundo, inclusive com a “exportação” de jogadores para algumas das principais ligas da Europa, como o goleiro Aouat, o zagueiro Bem Haim e o atacante Benayoun. Houve uma considerável evolução de sua seleção no cenário mundial: segundo o ranking da FIFA, publicado logo após as Eliminatórias, Israel ocupa o 26º lugar. Só como comparação, a seleção asiática mais bem posicionada é o Japão, na 40ª posição, em um continente que pode ter quatro ou cinco vagas no Mundial.

A inserção no continente europeu não representou o fim das tensões: manifestações anti-judaicas não foram de todo superadas, e ganharam força com o período subseqüente ao desmonte do Welfare State no lado Ocidental e a dos Estados Socialistas no Oriental, assim como toda as manifestações de intolerância contra o “outro” , o elemento externo que estaria corrompendo a cultura e sendo o responsável pela crise econômica. Os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos puseram em evidência maior ainda a questão palestina, especialmente em seus primeiros momentos, quando as conseqüências ainda eram imprevisíveis.

A seleção israelense, em Outubro de 2001, justamente logo após o início dos ataques comandados por forças anglo-americanas ao Afeganistão, disputaria em Tel-Aviv uma partida decisiva contra os austríacos, cuja vitória lhe daria uma vaga na repescagem européia. Temerosos, o visitantes se recusaram a viajar, fato que só fariam no mês seguinte. A seleção local vencia até os minutos finais, quando um gol de Polster a tirou da repescagem. O que não deixou de ser um alívio, pois o adversário seria a Turquia.

A Turquia, mesmo adotando o modelo de Estado laico, ainda é um país majoritariamente muçulmano, onde os radicais ainda têm boa representatividade. A presença da representação israelense em Istambul poderia gerar manifestações imprevisíveis, assim como aconteceria ano depois, quando dos conflitos entre forças israelenses e o grupo Hamas, quando a equipe de basquete do Maccabi Haiffa simplesmente não conseguiu atuar em Istambul, em um jogo da Euroliga, devido aos distúrbios provocados pela torcida, que protestava contra a política israelense em relação aos palestinos, e também contra a presença de uma equipe que representava o Estado Judeu em seu território.

As relações internas

Quem espera que o futebol israelense seja uma expressão do sionismo através do esporte certamente se decepciona. Sua seleção é formada por cristãos e muçulmanos com cidadania local, e as torcidas de seus times não são exatamente conhecidas por expressarem posições políticas. O Ben Yehuda Tel Aviv, fundado por muçulmanos, mas contemporaneamente uma equipe multi-religiosa, embora simbolicamente (pela sua fundação) ainda representante da comunidade árabe, venceu a Copa de Israel em 2004, obtendo uma vaga apara a Copa da UEFA seguinte. Os dirigentes da equipe afirmaram no ato que não se sentiam discriminados e se consideravam um clube multi-cultural.

O único senão é o Beitar Jerusalém, equipe tradicionalmente mediana, mas que ganhou força com os investimentos do multimillonário de origem russa Arkady Gaidamak, e cujos dirigentes e boa parte da torcida são simpatizantes de partidos de direita e dos ultra-ortodoxos, mas pelo menos de orientação direitista. A localização do time, em Jerusalém, terra sagrada para as três maiores religiões monoteístas do mundo, e ponto central nos conflitos entre judeus e palestinos é mais que marcante.

E mesmo fora da esfera da questão palestina, o futebol israelense tem em uma das suas principais rivalidades citadinas uma disputa ideológica semelhante a que ocorre na Europa, com direito a opções políticas e origem étnica. Em Tel Aviv, o Maccabi e o Happoel Tel Aviv (que carregam a cidade como sobrenome) protagonizam a maior rivalidade local. O Maccabi é estereotipado por seus torcedores, judeus de origem européia e eleitores do Likud; já entre os adeptos do Happoel (trabalhador em hebraico) ficou conhecido por sua torcida de judeus de origem afro-asiática e eleitores dos trabalhistas.