quarta-feira, 26 de outubro de 2011
A FIFA ENGANOU O BRASIL? NÃO, PORQUE A REGRA É CLARA
http://comfelelimao.wordpress.com/2011/10/21/a-fifa-enganou-o-brasil-nao-porque-a-regra-e-clara/
É bem forte o barulho contra as exigências da FIFA para a realização da Copa no Brasil. Estão falando que o governo está abrindo mão da soberania nacional, atropelando direitos conquistados a duras penas… É, talvez estejam mesmo, mas quem se candidatou a sede da Copa-2014 sabia que isso talvez fosse necessário. Se não sabia, deveria saber. Se sabia e não contou ao povo, sinto muito. Agora a bola já está rolando.
A Copa do Mundo FIFA é um evento privado, uma espécie de circo que fica parado em Zurique e, a cada quatro anos, viaja por um mês para fazer uma turnê no país que pagar melhor a ela. Por “pagamento”, entenda-se ATENDER AOS REQUISITOS do famigerado “Caderno de Encargos FIFA” e realizar uma miríade de conchavos políticos que garantam a sua escolha como país-sede.
De 1986 para cá, o circo da FIFA vem ficando cada vez mais sofisticado e cheio de não-me-toques, toalhas de linho branco e garrafas de Möet Chandon a 8ºC no camarim, graças à exacerbação do conceito de futebol-empresa. A Copa é o espetáculo esportivo mais visto e mais caro do mundo, nada pode dar errado (segundo os parâmetros da dona do evento). Não se perca de vista que a dona da Copa é a FIFA, não o país-sede.
Tá, mas e daí?
E daí que a FIFA usa padrões do futebol europeu (Itália, Espanha, Alemanha, Inglaterra – não Grécia, Portugal ou Croácia) para formular seu conceito de “tudo certinho”. Então, ANTES de se meter a fazer Copa do Mundo, o candidato tem de ver como as coisas funcionam por lá, pra ver se AGUENTA a bagaça. Se não aguenta, nem se candidata. E por “aguentar”, entenda-se não ter de rasgar leis ou violar direitos e, claro, não quebrar o país ou enchê-lo de inutilidades (se você não tem dinheiro para desperdiçar com elas).
É absolutamente ingênuo achar que a FIFA vai “se adaptar” ao país-sede, por três razões muito simples:
1) existe UMA FILA de países querendo os jogos, muitos deles submetendo-se a qualquer coisa para tê-los;
2) existe OUTRA FILA de países querendo os jogos e que não precisam mover uma palha para “se adaptar” aos caprichos da entidade, pois os tais caprichos estão plenamente incorporados (os tais países-modelo da FIFA).
3) É a FIFA que aceita o país-sede, não o contrário.
Bem, mas você pode perguntar: “peraí, mas tem coisa que não estava no Caderno de Encargos e que estão exigindo agora, estão rasgando o contrato!”. CLARO que tinha, porque a tal brochura é um documento que deve ser seguido por todos os candidatos, não comportando especificidades do tipo “ingresso de aposentado não pode”, porque isso é uma jabuticaba.
Para a FIFA conseguir sua almejada qualidade HDMax no evento, ela nivela todos os países candidatos “por cima”, e exige de quem quer fazer o evento que suba se estiver embaixo. “Suba”, sempre é bom ressaltar, de acordo com os parâmetros dela, não os da sede. O objetivo da entidade é um só: seja na África do Sul, Inglaterra, Brasil ou Qatar, o cliente deve se sentir da mesma forma e os parceiros devem ter as mesmas regalias, senão o contrato dela fura e ela perde dinheiro.
A história recente mostra que, quando o país não é “modelo-FIFA”, depois que o circo vai embora a coisa fica bem feia: lixo pra todo lado, bosta do elefante branco espalhada pelo terreno e um monte de conta no espeto.
PS.: isso vale também para a Olimpíada, claro.