segunda-feira, 28 de novembro de 2011

MANUAL DO FUTEBOL DE RUA



Futebol é coisa para macho, já diziam os antigos. E na atualidade, quando os moleques só jogam em campos society, vestidos como almofadinhas e cheios de não-me-toques, o espírito de peladeiro de rua parece ter se esvaído. Espírito esse que não se encontra nos Play-Stations e TV’s por assinatura da vida.


Por isso eu, um peladeiro das antigas, resolvi me filiar à Federação Organizada de Futebol Alternativo (a FOFA, organização criada por Marco Bianchi), e participei da formatação das regras de tal prática.

Vamos aos nove tópicos principais:

O campo: qualquer terreno razoavelmente plano serve, e se for acidentado, não há problema algum. As florzinhas podem jogar calçadas, se seus pezinhos ficarem feridos. Pedras, pedregulhos, buracos e desníveis de forma alguma servem como empecilho para a peleja. Caso o local possua meio-fio, ele serve como delimitador, mas do contrário, vamos em linha mesmo.

A bola: não é necessário o uso de bolas oficiais (as Jabulanis são coisas de dondocas). Sendo assim, a prática do jogo requer um objeto meramente esférico (coco, cabeça da boneca da irmã, meia velha).

Baliza: par de chinelos, paralelepípedos ou ainda pedaços de madeira servem para delimitar os alvos.

Quantidade de Jogadores: no mínimo dois, sem quantidade máxima especificada. Não é obrigatório que o número seja igual para os times, caso o desnível técnico seja evidente, pode-se aceitar uma quantidade desigual de jogadores.

Disposição das equipes: tática é coisa de gente chata. Mas, há recomendações especiais, como colocar o brutamontes na defesa para intimidar os atacantes; mandar o ligeirinho para correr feito um desembestado no ataque; e deixar o pereba no ataque para ver se sobra uma bola para empurrar para o gol.

Diferenciação dos times: não há uniforme, ou no máximo, time com camisa contra time sem camisa.

Tempo de duração das partidas: sem alguém possuir um relógio, pode-se estabelecer limitação; do contrário, pode-se combinar algo do tipo “três vira e seis acaba”, ou no caso de existência de um “time de fora”, recorre-se ao “dois gols ou dez minutos”, partida desempatada na moeda, no par-ou-ímpar, ou até mesmo na saída dos dois times, em caso de empate.

Juiz: o quê? Qual a utilidade disso? Divergências são resolvidas na base do grito ou da porrada.

Interrupção das partidas: são obrigatórias caso a peleja aconteça no meio da rua e algum veículo transpasse o terreno. A jogada é imediatamente interrompida quando alguém grita “para a bola”. Ainda há o caso de a bola cair na casa de algum vizinho mala, o que pode ser solucionado esperando dois minutos para a devolução voluntária, tempo sucedido pelo pedido informal; após o qual vem uma solicitação acompanhada de ameaças. Caso não haja a devolução, retaliações de qualquer natureza são permitidas.