terça-feira, 3 de agosto de 2010

TODO PODEROSO É O CARAMBA



Futebol e mito são como queijo e goiabada: bons separados e melhor ainda quando unidos. Alguns são como um tempero de um prato muito bom, outros são bobagens desnecessárias que azedam qualquer prato, seja ele bom ou não.

Grandes torcidas são como grandes comunidades que carregam em seu seio histórias que justificam a devoção, e como tal, por vezes carregam exageros. Seguindo o pensamento de Goebbels, uma ou várias mentiras bem trabalhadas podem ser encaradas como verdades incontestáveis, e quanto maior o número de crentes nessa visão equivocada, mais a falsificação é aceita como verdade.

Esse é o caso de clubes com grande número de torcedores. Vou escrever sobre o Corínthians, mas com outros argumentos, poderia escrever sobre qualquer outro. O time do Parque São Jorge ganhou uma exposição de mídia impressionante ultimamente, e mais especialmente ainda após o retorno à Série A e a contratação de Ronaldo. Talvez por isso, se diga que o Corínthians é um clube diferente dos demais, ou melhor que todos, como os mais fanáticos gostam de afirmar.

Com isso, foram criados alguns mitos sobre o clube. Vamos descontruí-los:

1. “Todos os times têm torcida. A torcida do Corínthians tem um time”: ora essa, todo time vive em função de sua torcida. Pelo que eu saiba, o Corínthians foi fundado em 1910, quando o futebol ainda engatinhava no Brasil e ainda não tinha lá muitos simpatizantes.

2. “Corinthiano é fiel, não abandona o time nunca”: se fosse assim, o time sempre jogaria com estádios cheios, coisa que obviamente nem sempre acontece. Se isso fosse verdade, os jogadores sempre receberiam apoio das arquibancadas, e como todos sabem, não foram raros os casos em que a torcida execrou o time.

3. “Tudo o que acontece no Corínthians é potencializado”: aí está uma verdade, mas que tem explicação numérica, e não mítica. O Corínthians tem a maior torcida de um mercado rentável como é o mercado paulista, e imprensa quer vender jornal e/ou ter atenção. Então, por conseqüência, falar do Corínthians, seja bem ou mal é rentável. Se existir notícia, ela deve ser transformada em polêmica; e se não existir, inventa-se.

4. “O Corínthians é um time diferente de todos os outros”: mais uma verdade que é trabalhada para se tornar mito. Todos os clubes têm especificidades, seja ela em sua torcida e na sua política interna. A política corinthiana é tumultuada, mas a de maioria de todos os grandes clubes também são, a não ser que seja homogeneizada nas mãos de um ditador ou um grupinho restrito.

5. “O corinthiano é sofredor, graças a Deus”: mais uma bobagem. Não conheço ninguém que se orgulhe de sofrer. O Corínthians tem em sua história vitórias épicas, grandes craques, pernas-de-pau que foram alçados ao posto de ídolos, passou apor um longo jejum, e amargou um rebaixamento para a Série B, assim como outros grandes clubes. O rebaixamento não doeu mais no corinthiano do que o rebaixamento do Palmeiras doeu no palmeirense: tragédia é tragédia, independente da quantidade de vítimas. Não quantos “irmãos de fé” sofrerão ao seu lado, isso não alterará a proporção de seu sofrimento.

6. “Existem duas torcidas: uma corinthiana e outra anticorinthiana”: todo torcedor torce contra seus rivais, independente do tamanho de suas torcidas. Quando o São Paulo venceu o Mundial de Clubes de 2005, será que a torcida corinthiana assistiu a partida contra o Liverpool de maneira indiferente? Se são em maior número, é natural que os corinthianos sejam mais perseguidos pelas troças de rivais em caso de derrota.