quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

MUDAR COMO?




Já tenho um bom tempo de sala de aula, e acompanhando a minha experiência, a de meus colegas, e casos pela imprensa, não fica difícil constatar que a indisciplina na escola parece caso irreversível.

2011 é pior que 2010, assim como 2010 foi pior que 2009, 2009 foi pior que 2008. E 2012 será pior que 2011, 2013 será pior que 2012, 2014 será pior que 2013... Mas, qual o motivo disso?

Intelectuais de gabinetes, pseudo-especialistas, e demais burocratas de visão colorida de mundo indicam as causas, devidamente contestáveis:

“A escola não acompanhou as transformações do mundo”: a que transformações essa afirmação se refere? A escalada da violência na sociedade, a atomização do sujeito, a abolição da meritocracia como meio de ascensão social e a pragmatização do conhecimento? Se for isso, pode ter certeza que a escola acompanhou sim.

“A escola não conseguiu suprir a ausência da família na educação de seus filhos”: não conseguiu, não vai conseguir e nem tem obrigação de tentar de suprir TOTALMENTE a família. Educação é dever da família, do estado e da sociedade, diz a Constituição. Além do mais, o estudante já chega à dita Educação Sistematizada após alguns anos de vida e a maioria passa quatro ou cinco horas diárias no recinto escolar. Não foram poucas as vezes que conversei com pais irritados por “serem arrancados” de casa ou do serviço para tratarem de assuntos que os funcionários da escola são remunerados a fazê-lo, como se não tivesse responsabilidade nenhuma. Então, ou essa gente cega consegue alterar a Carta Magna, ou muda a sua concepção de mundo.

“As aulas não são dinâmicas, a escola não é atraente”: aula dinâmica é um conceito um tanto quanto vago. Alguns dizem que o uso de informática é um caminho, no que concordo parcialmente: via de regra, sala de informática é local de acessar MSN, Orkut, Facebook, outras redes sociais, ou vasculhar outras bobagens. Se a rede bloquear baboseiras, a aula se torna desinteressante. Outros pensam em projetos, que são até legais, aliviam um pouco a rotina da matéria, mas que têm pouco ou nenhum resultado prático, além de serem um anestésico de curta duração. Logo, logo caem na rotina.

“As avaliações são obsoletas”: típica desculpa para encobrir maus resultados. Se provas escritas podem não são a melhor maneira de avaliação, por que PAEB, ENEM, Olimpíadas de Matemática e congêneres são aplicados através de avaliação escrita. Ou será que alguém sugere o uso de trabalhinhos tipo Ctrl+C e Ctrl+V no Vestibular? Se isso passar a existir, deixo o Magistério e passo a fazer essas “obras copistas”. Normalmente, associar o fracasso no rendimento dos alunos à metodologia incorreta de avaliação está associada à questão da redução da reprovação, sonho da turma do mundo cor-de-rosa.

“Os professores são despreparados, mal-formados, desmotivados e desinteressados”: está aí uma verdade parcial. Magistério, assim como em qualquer setor social é composto de gente bem e mal-intencionada. Pois bem, se os professores são despreparados, a imensa maioria da culpa disso é da imensa distância entre as Licenciaturas e a realidade, sendo que o ensino das primeiras está dominado por gente que parece viver no País das Maravilhas. A formação pós-faculdade serve muito mais para gerar títulos para concursos do que propriamente atualizar o profissional. E fica difícil motivar um profissional que estudou anos e anos para ensinar e na prática exerce o cargo de babá da prole alheia, isso sem contar os salários muitas vezes desmotivadores e a carga de trabalho cruel, que não raro, se estende muito além daquilo que a carga horária remunerada estipula.

“A escola parece um mundo à parte, não se articula com a comunidade”: outra verdade parcial. A escola não procura a comunidade, e a comunidade não procura a escola, e quando a procura ocorre por iniciativa da comunidade, normalmente tem o interesse de cessão do espaço para atividades de interesse alheios à escola; e quando a escola procura a comunidade, via de regra se dá por convites para reuniões enfadonhas, ações determinadas verticalmente e direcionadas pelos sistemas de ensino como forma de fazer propaganda.

Solução não é coisa fácil, e nem se resolve dentro dos muros da escola, que está imersa em um tecido social doente. Querer que a escola abrace o mundo e o conserte beira a idiotice.

Melhor escrever uma cartinha para o Papai Noel.